A luta para manter o Hospital Psiquiátrico de Rio Grande atendendo a comunidade ganhou forte aliado nas últimas horas. Na mira de defensores do fim do atual modelo, o hospital já passou inclusive por visitas de uma comissão nomeada pela intervenção da Prefeitura Municipal na Santa Casa a partir de 2015 para elaborar relatório visando desconstituir o formato de atendimento do complexo. De lá para cá só aumenta o temor na cidade diante do iminente risco de fechamento do hospital, intranquilizando funcionários, familiares de pacientes e o corpo clínico da entidade.

Meses atrás, por decisão da 2ª Vara Federal de Rio Grande, chegaram a ser publicados editais de venda judicial do prédio do Hospital Psiquiátrico, o que inicialmente esbarrou na falta de interessados na compra. Sem definição a respeito de quem irá assumir a gestão da Santa Casa nos próximos dias, a empresa paulista Ocean Saúde, que apresentou na sexta-feira passada ao Ministério Público sua proposta para gerir o complexo, anunciou a decisão de investir na manutenção e ampliação do sistema de atendimento à saúde mental no município, preservando o Hospital Psiquiátrico. Outra organização interessada na gestão da Santa Casa já havia colocado no papel que fecharia o Psiquiátrico, passando a atender pacientes dentro do Hospital Geral, o que provocou críticas de funcionários, técnicos e da comunidade, por questões de logística e falta de segurança, principalmente.

Agora, o presidente da Ocean Saúde, médico Gilberto Pontes, revelou que a decisão, caso assumam a gestão da Santa Casa, é de “melhorar, humanizar e ampliar o atendimento no Hospital Psiquiátrico de Rio Grande”. Conforme Gilberto Pontes, não é reduzindo o atendimento que será saneada a grave situação financeira da Santa Casa. Quatro integrantes de sua equipe, em trabalho de levantamento dos setores que compõem a Santa Casa, estiveram verificando a situação do Hospital Psiquiátrico e anotaram os problemas. A organização concluiu que o espaço precisa ser redimensionado, o que será feito dentro de critérios discutidos com a comunidade, além de investimentos no setor.

MÉDICOS PREOCUPADOS

Os médicos psiquiatras do Corpo Clínico da Associação de Caridade Santa Casa de Rio Grande, vinculados ao Hospital Psiquiátrico e que atendem na Urgência/Emergência (Pronto Socorro) e internação, preocupados com o possível fechamento, resolveram apresentar manifestação em nota pública. Os psiquiatras dizem saber das constantes críticas em relação ao precário atendimento prestado, “nada diferente do que vem acontecendo em todos os serviços da Santa Casa, o que é consequência da administração da Associação de Caridade Santa Casa há muitos anos”.

O corpo clínico relata ter procurado inúmeras vezes a direção da Santa Casa e a Secretaria Municipal de Saúde em busca das soluções necessárias para a remodelagem do Psiquiátrico. “Infelizmente houve o mínimo avanço, pois o rumo já definido, sem diálogo com quem está na labuta diária desta área da saúde, sempre foi o do fechamento”. Os médicos psiquiatras ressaltam como fatores positivos o interesse e a capacidade dos trabalhadores, mas existe a falta de tudo o que é necessário para melhorar o atendimento prestado. “Faltam estrutura física, material ambulatorial, medicação, uniforme e material de limpeza”, ressaltaram os médicos em nota pública.

Eles defendem que não deve haver fechamento, mas procurar o resgate, melhoria e integração dos serviços do Psiquiátrico com a Rede Pública. “Precisamos de inclusão e não exclusão de pessoas, profissionais, serviços e usuários”. Os médicos sustentam que “quando a demanda do usuário chega ao nível de um hospital psiquiátrico, é porque ele já percorreu todos os demais níveis de atenção e estes não foram suficientemente resolutivos”.