Site Edson Costa Repórter teve acesso à gravação em áudio e vídeo contendo depoimento prestado ao Ministério Público Estadual num inquérito que apura denúncia de cobrança irregular em cirurgia que deveria ser feita pelo Sistema Único de Saúde– SUS. Um médico-cirurgião, que atua na Santa Casa de Rio Grande, atendeu um pescador pobre, com adiantado quadro de câncer de boca, encaminhado pelo serviço de Saúde da Prefeitura de São José do Norte.

O médico RJJ está sendo investigado por suspeita de envolvimento em caso de improbidade administrativa na prestação do serviço de referência em cirurgia oncológica pelo SUS, valendo-se de sua posição para angariar clientela à sua clínica particular. O Ministério Público continua ouvindo depoimentos e já chamou também o administrador da Santa Casa, Régis Pinto e Silva para prestar depoimento.

DEPOIMENTO IMPORTANTE

A diretora de Gestão de Saúde do município nortense, Daniela Freitas, ouvida no MP pelo promotor José Alexandre Zachia Alan, prestou informações sobre o que recolheu ao longo do acompanhamento do caso e a partir de informações repassadas pela família do paciente. Desde o final de fevereiro a situação vem sendo investigada. O doente precisava de encaminhamento para atendimento e cirurgia de urgência. O médico disse que o caso era de urgência, mas que “pelo SUS demoraria no mínimo oito meses para a cirurgia”. Contudo, se o paciente desejasse, poderia realizar a cirurgia na modalidade particular, de forma mais rápida.

A esposa do pescador, segundo o depoimento da representante do órgão de Saúde de São José do Norte, informou que o custo da cirurgia particular anunciado pelo médico seria em torno de R$ 15 mil.

CARTÃO DE VISITA

Um dos pontos mais chocantes do depoimento foi quando ela fez referência ao comportamento adotado pelo médico sob investigação. Pela evolução da doença, o pescador teria que ser operado em quinze dias, pois apresentava um quadro também de muita dor. “Fica claro para mim que o médico utilizou o sistema Único de Saúde como um cartão de visita para o atendimento no seu consultório particular”. Ainda segundo a servidora pública, “a esposa do paciente estava desesperada em não poder pagar a cirurgia particular, sabendo que seu marido poderia vir a óbito”.

Pela gravidade do caso, a regulação do sistema entrou em contato com outro médico da área oncológica em Rio Grande, na tentativa de abreviar o procedimento cirúrgico.

RJJ fazia atendimento clínico em São José do Norte. Depois do episódio, as autoridades de Saúde resolveram que não seria coerente mantê-lo em atividade. Ele foi retirado da escala de atendimentos, mas antes procurou sua chefia para saber o que estava acontecendo. A diretora de Saúde de São José do Norte disse ao promotor de Justiça que a secretaria não poderia ser negligente, sabendo a respeito de outras supostas situações envolvendo o mesmo profissional. Sobre a denúncia contra o médico, ela disse ainda que “isto desrespeita a pessoa e não é um comportamento humano”.