A direção da Santa Casa de Rio Grande terá que explicar às autoridades sobre pagamentos de valores elevados a pessoas desqualificadas e utilização de “laranjas” em mais um estranho contrato de suposta prestação de serviços diversos dentro do hospital. O Site Edson Costa Repórter termina hoje a Série Irresponsabilidade com a Vida, contendo informações obtidas em relatório de organismo do governo federal sobre as circunstâncias da queda de um elevador de carga na Santa Casa, ferindo gravemente uma técnica de Enfermagem, no dia 22 de novembro do ano passado.

As irregularidades elencadas em relatório da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho do governo federal são muitas. Atolado em dívidas da ordem de R$ 250 milhões, o Hospital de Caridade Santa Casa de Rio Grande sofre várias investigações em diferentes esferas, muitas delas desconhecidas da comunidade. O acidente com o elevador de carga acabou suscitando mais situações e linhas de investigação, exibidas publicamente pelo Site Edson Costa Repórter, que acessou o conteúdo produzido na etapa inicial da auditoria técnica. A veiculação dos principais fatos foi feita de modo a não prejudicar as averiguações que já apontam a existência de “um flagrante conflito de interesses” dentro da Santa Casa envolvendo a contratação de serviços.

Um dos contratos apurados teve a duração de dois anos, a partir de 24 de julho de 2017 “para a prestação de serviços de manutenção de maquinário do hospital, dentre os quais o elevador acidentado, além de lavanderia, bombas e compressores”, cita o registro da autoridade fiscalizadora federal. O preço contratado com particulares foi de R$ 25 mil mensais. O contrato prometia a execução de um sofisticado sistema de manutenção envolvendo uso de meio on-line na emissão de ordens de serviço, sistema de QR Code para obtenção de ficha técnica e registros de manutenção instantâneos de máquinas e equipamentos, relatórios técnicos, dentre outros.

Segundo consta no relatório da autoridade federal, o contrato foi firmado por José Mário Stroeher, que na época da assinatura do documento já presidia a associação mantenedora do hospital. “Estima-se que tenha custado à Santa Casa pelo menos R$ 700mil reais”, menciona o relatório, frisando que se trata de “contrato manifestamente irregular e visivelmente não executado”. O relatório viu o que chamou de “elementos típicos de uso de laranjas” no negócio com uma empresa “instalada numa casa residencial de baixo padrão, situada na periferia, sem qualquer indício de exercício de atividade empresarial no local”.

Em diligência fiscal realizada, a moradora do local declarou que “um vizinho de longa data havia pedido que lhe emprestasse o endereço para registrar a empresa lá”. O documento da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho refere que o contrato feito pelo hospital não era com pessoal minimamente qualificado para tais serviços, tendo como agravante o exercício profissional ilegal de engenharia. Houve o que foi chamado de “valor exorbitante na contratação”. Duas pessoas da “empresa” dividiam a quantia de R$ 25 mil mensais do contrato pago pela Santa Casa. Acusa, ainda, que “as duas pessoas eram desprovidas de qualquer qualificação, havendo sinais claros de superfaturamento contratual”, o que para a autoridade contrasta com o cenário de penúria financeira do hospital.

ESTRANHO

A Santa Casa é acusada de ter apresentado à autoridade um registro sem a mínima idoneidade. Um estranho relatório de manutenção foi produzido depois do acidente com o elevador e, mesmo assim, somente depois da deflagração da ação fiscalizadora governamental, o que complica a situação dos gestores da entidade. A direção da Santa Casa não respondeu aos pedidos de informações feitos pelo Site Edson Costa Repórter.

(Foto: Banco de Dados/Site Edson Costa Repórter)