Um relatório de 176 páginas contém informações surpreendentes envolvendo saúde pública, doenças e animais no município de Rio Grande. Riscos iminentes que a população corre também constam no Relatório de Gestão do 1º Quadrimestre, elaborado pela Secretaria de Saúde do município e entregue à Câmara de Vereadores.

Neste período, o Programa de Controle e Profilaxia da Raiva recebeu 462 notificações para observação de cães e gatos que feriram pacientes. Para cada notificação são realizadas em média duas visitas. Na progressão foram realizadas 924 visitas de investigação da raiva no quadrimestre e coleta de 18 amostras laboratoriais, encaminhadas ao Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor, em Eldorado do Sul. Quinze apresentaram resultado negativo e três ainda aguardavam posição final.

Em um ano foram observados 873 animais entre cães e gatos, segundo a Saúde. Somente neste quadrimestre, foram 221 animais. O relatório enfatiza que a principal causa da não observação de muitos animais suspeitos é em relação aos de rua que acabam não sendo localizados, índices que aumentam no verão. “Isto gera um enorme risco, visto que podem percorrer um raio grande de distância e no caso de um estar positivo para o vírus da raiva a disseminação acontece muito mais rapidamente”. Segundo a secretaria, “isto é uma situação de risco incalculável e de difícil solução, dependendo de vários órgãos públicos e não somente da Vigilância em Saúde”.

RISCOS E PROCESSO DE PUTREFAÇÃO

Em grande parte, as conclusões não chegam em tempo hábil (10º dia após a agressão), devido às notificações com falta de informações. Algumas situações chegam ao conhecimento da autoridade com atraso. O documento aponta textualmente que “a falta de mais técnicos na unidade dificulta a dedicação exclusiva da responsável técnica ao programa, o que acaba gerando acúmulo e atraso da demanda”. Segundo o alerta dos especialistas que elaboraram o relatório “isto não pode ocorrer, pois aumenta o risco de óbitos”. Outro aspecto preocupante elencado é o grande déficit de vacinas e soros.

Também há dificuldade na coleta de amostras. “Falta uma viatura apropriada para o transporte das carcaças de animais destinados à coleta de amostra laboratorial para exame do vírus rábico, pois além do risco biológico trata-se muitas vezes de amostras que já iniciaram o processo de putrefação”, advertem os técnicos da Saúde. O Programa de Controle e Prevenção de Animais Sinantrópicos– aqueles que convivem com as habitações humanas, causando algum prejuízo, seja de ordem econômica ou sanitária, foi mencionado.

Estes animais constituem um grande desafio aos órgãos de controle e prevenção que, isoladamente, pouco têm a fazer frente às infestações. Limitam-se  muitas vezes à aplicação pontual de produtos químicos que aceleram o processo de resistência, além de contaminar o meio ambiente. Neste programa são realizadas as investigações ambientais geradas a partir de notificação de acidentes com animais peçonhentos, como aranhas, escorpiões e taturanas.

SITUAÇÕES BEM GRAVES

Com a atual falta de recursos humanos e materiais torna-se inviável realizar qualquer projeto educativo que realmente seja eficaz, acarretando em uma proliferação gravíssima de sinantrópicos nos meses de temperaturas elevadas, alertou a Saúde no documento. “Continuamos a nos deparar com a falta de alguns Equipamentos de Proteção Individual– EPIs apropriados para a colocação de produtos químicos em ambientes infestados por animais sinantrópicos, o que pode gerar acidentes, prejudicando a saúde dos funcionários do setor”.

Outra dificuldade apontada foi na manutenção da viatura, que neste quadrimestre apresentou problema na bomba que aciona a aplicação do produto químico, levando mais de noventa dias para ser solucionado, além da falta da tampa traseira do veículo. A tampa evitaria a exposição da bomba do veneno quando não estiver sendo utilizada. Também, é necessário realizar a identificação da viatura, possibilitando a visualização que se trata de veículo que transporta produto químico.

ANIMAIS PEÇONHENTOS

Neste quadrimestre foram coletadas três amostras sorológicas de cães com sintomatologia de Leishmaniose, para exame laboratorial. Dois eram provenientes da Vila da Quinta, próximos a um caso humano positivo em investigação, mas acabaram apresentando resultado negativo para a doença. O terceiro foi o de um cão proveniente do estado de Santa Catarina que apresentou, num primeiro exame, resultado positivo para a doença.

No quadrimestre foram encerradas seis investigações de leptospirose e 14 de acidentes com animais peçonhentos. Tudo o que chega à secretaria por meio da Vigilância Epidemiológica envolvendo suspeitas de doenças zoonóticas de notificação compulsória, assim como de acidentes com peçonhentos, é investigado, afirmam os técnicos no documento.

O MAR DE CARÊNCIAS NA PREFEITURA

Na análise de desempenho, a Vigilância em Saúde, no primeiro quadrimestre de 2019, continuou com dificuldades no recebimento de pedidos de compra de materiais permanentes e de consumo. Recursos financeiros vinculados– os que só podem ser usados na finalidade da vigilância, “têm ficado meses parados na Junta Financeira, órgão institucional da Prefeitura, para liberação de utilização”, alertou o documento.

Isso vem ocasionando demora nos processos de aquisição, principalmente de insumos necessários ao cumprimento das tarefas diárias, ocasionando desgaste nas equipes de trabalho, pois não podem executar as atividades de atendimento às extensas reclamações da população. O lenitivo foi a contratação de um veterinário para a Vigilância Ambiental em Saúde e quinze agentes de endemias no 1º quadrimestre.

A estrutura física do Centro Municipal de Vigilância em Saúde atualmente não é adequada, sendo necessárias reformas e manutenções rotineiras. Além disso, a falta de espaço físico adequado para as equipes e atendimento à população, e inacessibilidade para portadores de necessidades especiais no Laboratório Municipal, preocupam os técnicos que fizeram constar as carências no documento. O relatório enfatizou que “essas dificuldades serão sanadas quando o Centro de Saúde– Posto 4 estiver em condições para a implantação dos programas”.