Após denunciar um ex-presidente da Câmara Municipal por má conduta no exercício da vereança, um servidor público concursado alega estar sendo vítima de perseguição implacável no legislativo, inclusive sendo indicado à Justiça Eleitoral, em regime de cedência. Fernando Vaz Corrêa, que também é advogado, foi à Polícia Civil e fez pelo menos três boletins de ocorrência contra o ex-presidente da câmara, Flávio Veleda Maciel (SD). O auxiliar de secretaria afirma estar sendo alvo do que classifica de “operação cala-boca” dentro do legislativo, articulada pelo seu algoz, Flávio Maciel.

O agravante na guerra dentro do legislativo foi o Ofício nº 755 enviado pela câmara, disponibilizando o servidor para trabalhar no cartório da 163ª Zona Eleitoral de Rio Grande, em regime de cedência. Fernando Corrêa, em entrevista exclusiva ao Site Edson Costa Repórter disse que depois de ter acusado o vereador de homofobia, dentre outras más condutas, passou a ser perseguido.

ENTENDA MELHOR O CONFLITO

Tudo começou há um mês, quando o servidor resolveu protocolar o requerimento n°4140 pedindo a abertura de investigação sobre a conduta de Flávio Maciel. No processo consta que o parlamentar estaria envolvido em casos de nepotismo direto e cruzado, direcionamento licitatório, participação da assessoria da presidência em atos de gestão e prática de homofobia. Também apontou o envolvimento de Maciel com empresas relacionadas ao próprio vereador em processos licitatórios irregulares, redução de salário de terceirizados, utilização de servidor e da máquina pública para fins particulares, apropriação de trabalho intelectual, assédio moral e concussão. O vereador Maciel nega de forma veemente todas as acusações, mas a mesa diretora da câmara abriu uma sindicância interna, composta por funcionários efetivos, para apurar as denúncias contra o vereador.

A POLÍCIA ACIONADA

Uma das ocorrências registradas pelo servidor na polícia foi tipificada pela autoridade como “outros crimes”, a partir das alegações de Fernando Corrêa. A ocorrência cita que o vereador usou a câmara e espaços na mídia para propor que, após apuração dos fatos, “o denunciante seja punido com a perda do cargo, demissão e expulsão do serviço público”. Ele considera estar sendo vítima de uma “operação cala-boca”. Disse que ainda tem muito a falar, mas teme pela sua vida e integridade física, avaliando pedir medidas de proteção às autoridades. Outro boletim de ocorrência contra o parlamentar é do campo da injúria.

RENÚNCIA

O servidor da câmara relatou e exibiu os documentos ao Site sobre a renúncia de boa parte de seus ganhos salariais para ficar inteiramente à vontade e denunciar a conduta do vereador. Ele pediu em julho a exoneração da função de chefe de compras da câmara, perdendo o Plus de R$ 1.700 em seu vencimento mensal. “Tudo isto para ficar à vontade e pedir a cassação do mandato do vereador, denunciando sua conduta nada recomendável”, disse. “Não sou filiado a partido e meu título eleitoral é do município de Bagé, logo, não tenho interesse político, mas quero fazer justiça e ajudar a limpar Rio Grande de figuras que poluem a vida pública”. Ele promete levar os fatos às últimas consequências dentro do que a lei faculta como direitos e garantias individuais.

IMPEDIDO DE ADVOGAR

O servidor Fernando Vaz Corrêa, de posse do Memorando nº 041, assinado pelo diretor-geral da câmara, Flávio dos Santos, compareceu ao Cartório Eleitoral da 163ª Zona para ser entrevistado, após a indicação de seu nome para cedência. “Cumpri o que me mandaram fazer, pois sou do bem e disciplinado, mas deixei clara minha posição, por escrito”. Fernando protocolou no cartório da Zona 163, quando foi entrevistado, uma Declaração de Vontade. No documento, deixou claro que “não gostaria de ser cedido à Justiça Eleitoral”. Fernando refutou de forme veemente a atitude da presidência da câmara em tentar se livrar dele após pedir a cassação de um vereador.

Ele também protocolou sua Declaração de Vontade na própria câmara, endereçada à presidente do legislativo, Andréa Dutra Westphal. “A câmara solicita cedências à prefeitura alegando falta de servidores e por qual razão quer agora fazer minha cedência”, perguntou o servidor concursado ao acusar que está sendo posto de castigo pelo legislativo. A Ordem dos Advogados do Brasil– OAB deverá ser acionada também no rumoroso caso.

Fernando Corrêa reitera a todo momento que se trata de uma punição por ter acusado de tantas irregularidades um homem dito poderoso na política rio-grandina, que presidiu a câmara em 2018. Ele não lamenta ter perdido R$ 1.700 por mês em seu salário, mas avalia não merecer tanto castigo. Se for assinado o termo de cedência, não poderá advogar, devido ao impedimento legal existente. Ele aguarda a decisão final sobre sua cedência e diz estar sob pressão no trabalho. Ainda não foi feita manifestação formal da Câmara de Vereadores diante dos fatos.