Como jornalista e cidadão apoio todas as ações de reerguimento e moralização do Hospital Santa Casa, mas não tenho estômago para aguentar a continuidade de escândalos, superfaturamentos, uso de laranjas, mentiras, rede de intrigas e ausência de gestão numa casa de saúde com tamanha importância à sociedade. Há muito tempo tenho sido porta-voz de vítimas das mazelas dos mais abomináveis casos, geralmente acobertados pela omissão. Muitos sabem, raros se arriscam a revelar e ninguém apura o que precisa ser apurado.

Não me incluo entre os que temem agentes de organizações criminosas. As paredes físicas da Santa Casa e as fronteiras do Município não são suficientes para esconder a ação quadrilheira que há bastante tempo desconstrói a gigantesca obra de saúde erguida por benfeitores do passado, no tempo que a Santa Casa era de Misericórdia. Um palco de negligências acobertadas pela ação complacente de personagens que deveriam, em vez de ameaçar jornalista, cumprir a obrigação de apurar e punir quem precisa ser punido, de todas as épocas. Somente de 2015 para cá, no rádio e nas plataformas digitais capitaneadas pelo Site Edson Costa Repórter, mais de trezentas denúncias foram feitas envolvendo a Santa Casa. Raras resultaram em investigação.

Nos próximos dias, mais situações serão aqui reveladas sobre escândalos no hospital. A Covid-19 centraliza as atenções, como se nada tivesse ocorrido nos esgotos diretivos imundos da Santa Casa, onde alguns ganharam e ganham muito dinheiro, à custa da dor, do sacrifício e da perda inexplicável de vidas. Aviso sempre que jornalismo investigativo e sem amarras não teme ameaças, pressões e processos. Como nem ao bispo posso mais me queixar, tenho insistido na cobrança pública por transparência, antes que terminem fechando o hospital, o que só não aconteceu por conta do incansável trabalho dos funcionários. A pandemia vem ajudando a manter a Santa Casa viva, com os caminhões de dinheiro que aqui encostam. Quando tudo isso acabar, o que manterá o hospital erguido?

A pandemia, além do elevado número de infectados, mortes (algumas de forma estranha), exploração e exposição de pacientes e funcionários a sérios riscos, vem sendo usada para abafar os escândalos que antes do vírus já contaminavam o hospital e a cidade. A Covid-19 tem as costas largas. Tudo é Covid. Na verdade a patifaria é pior, até porque vem de muito tempo, quando nem se pensava em uso de máscara e álcool em gel. De minha parte, exijo respostas e não apenas a informação de quantos se contaminaram e quantos morreram por Covid. Não me incomoda ser um investigador solitário. Revolta é que tudo acaba sendo escondido. Menos aqui.