De forma secreta, Dom José Mário Stroeher (foto), comandava a entidade há 45 dias

Desafiando o Ministério Público do RS e a opinião pública, a cúpula da Santa Casa escondeu durante um mês e meio o nome de quem na verdade vinha comandando o hospital. Sem ninguém saber, o bispo emérito católico Dom José Mário Stroeher estava comandando a Santa Casa desde dia 22 de abril. Além do descobrimento do Brasil, a data entra para a história do município do Rio Grande, mas como um mistério a ser investigado pelas autoridades.


ENTENDA O CASO

No dia 22 de fevereiro deste ano, o presidente da Santa Casa, bispo emérito Dom José Mário Stroeher, em meio a uma série de queixas e denúncias contra sua gestão, comunicou por escrito à diretoria que estava se afastando “por tempo indeterminado, para cuidar de assuntos pessoais importantes”. Também integrante da diretoria investigada pelo Ministério Público, o 1º vice-presidente, pastor luterano emérito Ruben Bonato, assumiu a presidência, o que abriu espaço para o bilionário Ruy Muniz, de Minas Gerais, ser indicado para o seu lugar e exercer influência no propósito de repassar o dinheiro do SUS aos cofres do Instituto Viva Mais. Bonato entrou em campo como chefe maior, principalmente após o Ministério Público colocar para correr o megaempresário Ruy Muniz. Cinco dias após o afastamento de Stroeher, o pastor Bonato reconheceu publicamente que “foi mancada assinar contrato com o Instituto Viva Mais, de Ruy Muniz”.

O VAZAMENTO

Neste domingo (09) chegou ao Site Edson Costa Repórter cópia do Termo de Declaração, incorporado ao Inquérito Civil nº 00853.00009/2018, sobre o depoimento prestado por Ruben Bonato ao promotor Érico Rezende Russo na última quarta-feira. Foi quando Bonato fez a revelação: “o bispo Dom José Mário reassumiu a condição de presidente da entidade no dia 22 de abril de 2019, estando somente afastado fisicamente nas datas de 03 a 10 de junho, para compromisso pessoal”. O que os conselheiros da Santa Casa também deverão averiguar, dentre outras situações, é a motivação do acobertamento da informação, só agora anunciada ao Ministério Público. Nem o promotor Érico Russo sabia que Dom José Mário estava como presidente da Santa Casa, pois no dia 31 de maio fez uma promoção ministerial endereçada ao então “presidente em exercício”, Ruben Bonato.

Nas próximas horas deverá ser feito levantamento sobre todos os atos assinados por Bonato como titular da Santa Casa no período em que Dom José Mário exercia, às escuras, a titularidade do cargo. O Conselho Municipal de Saúde será também instado a respeito. Aproveitando seu depoimento ao promotor, Bonato resolveu adiantar que nos dias seguintes receberia mais três entidades interessadas em assumir a gestão do hospital, Escola Nacional de Administração Pública (Enap), GV Consulting e IB Saúde. Contudo, o depoimento de Bonato esclareceu que “ele e o bispo Dom José Mário estão à frente dessas negociações”. Foram entregues ao promotor, cópias de processos criminais envolvendo uma das entidades interessadas em assumir a Santa Casa, a Associação Vila Nova, de Porto Alegre. Os documentos apontam o envolvimento de dois dos principais dirigentes da Vila Nova em denúncias, Dirceu Beltrame Dal’Molin e Carlos Henrique Giambastiani Casartelli.

DESINFORMAÇÃO E DESAPROVAÇÃO

Nas explicações ao promotor, o dirigente Ruben Bonato também procurou se clarear em relação a outras situações, tornando mais extenso o conteúdo do Termo de Declaração. Mesmo reconhecendo sua condição de gestor da Santa Casa, ele não soube dizer a Érico Russo quantas pessoas estão internadas no Hospital Geral, mas confirmou o que todos sabem, ou seja, o atraso dos salários de outubro, novembro, dezembro e 13º de 2018. Outro ponto emblemático foi o reconhecimento de que a Santa Casa somente não recebe mais recursos federais para emprego no Hospital Psiquiátrico “por falta de atualização nos termos da legislação vigente”. Bonato disse que houve tentativa de atualização ao regramento legal, mas terceirizou a culpa pela situação aos conselheiros da associação que comanda o hospital.

Também fez questão de dizer ao promotor que as contas da Santa Casa referentes a 2018 não foram aprovadas, em razão de um Parecer contrário do conselheiro fiscal Eder Neves, o que será encaminhado ao MP juntamente com o relatório da auditoria. Segundo Ruben Bonato, “isto pode inviabilizar a gestão da entidade, inclusive com o impedimento do recebimento de verbas públicas e perda do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social na Área da Saúde (Cebas)”. Outro fato grave é que a situação pode comprometer a parte final do processo de reenquadramento do hospital no Programa de Fortalecimento das Entidades Privadas Filantrópicas e Sem Fins Lucrativos que atuam na área da Saúde-Prosus. Ruben Bonato levou consigo três advogadas para prestar os esclarecimentos ao promotor Érico Rezende Russo.