A esporotricose, micose que atinge seres humanos e animais provocando feridas na pele, vem chamando a atenção das autoridades de Saúde do Rio Grande do Sul. Os municípios de Rio Grande e Pelotas concentram número preocupante de casos, o que já representa um importante problema de saúde pública.

O Rio Grande do Sul é o segundo estado com maior número de casos da doença reportados no Brasil. Somente no Laboratório de Micologia da Faculdade de Medicina– Famed da Universidade Federal do Rio Grande– Furg, cerca de 1000 casos de esporotricose em animais e de 200 casos em humanos, já foram diagnosticados, comprovando a necessidade de ações de enfrentamento, disse a doutora e mestra em Ciências da Saúde, Vanice Rodrigues Poester (foto) ao referir sobre os estudos da doença.

SAIBA MAIS 

Um estudo amplo sobre a esporotricose, coordenado pela professora Melissa Orzechowski Xavier, teve trabalho vencedor como melhor artigo científico do prêmio “Ira F. Salkin Award 2020”, fazendo parte do periódico americano Medical Micology. O estudo, segundo a Furg, fez parte da tese de doutorado de Vanice, defendida em fevereiro de 2021 e que foi desenvolvida com o auxílio de pesquisadores na área da saúde, destacando os colegas do Laboratório e nomes internacionais como o professor David Stevens e o doutor David Larwood.

PESQUISA

A pesquisa teve avaliação in vitro de um novo antifúngico (nicomicina Z) na inibição das três principais espécies de Sporothrix, fungo causador da esporotricose. A droga já é apontada como promissora no tratamento de outras doenças fúngicas, e estudos clínicos frente a outras micoses já estão sendo realizados. Na pesquisa foi demonstrada de forma pioneira a ação do medicamento frente a mais um microrganismo, ampliando seu potencial espectro de ação e instigando mais estudos para comprovação da sua aplicação na terapia da esporotricose. Segundo Vanice Poester, o estudo abriu a perspectiva de diversos outros visando à aplicação futura da nicomicina Z como fármaco antifúngico para o tratamento da esporotricose. O próximo passo será a avaliação da ação deste composto em modelo experimental ‘in vivo’.

TRANSMISSÃO

A doença é comum em gatos da nossa região, fazendo com que assim eles sejam os principais atingidos. O fungo pode ser transmitido para outros animais ou pessoas, culminando na disseminação da enfermidade e o tratamento é a peça vital para que haja controle epidemiológico. A prevenção é considerada dificultosa, pois é necessário um período prolongado de medicação diária. Sua administração exige mais recursos devido ao alto custo e efeitos colaterais nos animais. Um informe da Furg relata que a esporotricose está tendo um aumento tanto em número de casos quanto em distribuição geográfica no território brasileiro. O aumento culminou com a inclusão recente desta enfermidade (Portaria Nº 264, fevereiro de 2020) na lista de doenças de notificação compulsória no Brasil. Ainda não há um subdiagnóstico, especialmente devido ao desconhecimento da população e inclusive de profissionais da saúde, o que gera somente estimativas.

(Foto: Furg)